Num dia desses, em um grupo de WhatsApp em que estou
inserido, surgiu uma discussão: “como vocês podem postar tantas piadas, falar
tanto de futebol, com o país deste jeito?”. Essa “bronca” veio de um colega que
solta vários links, vídeos e reportagens por dia, com tema político. Ele,
claramente não escrevia mais nada a não ser isso!
Esse episódio iniciou um debate ali mesmo sobre o quanto
seria saudável falarmos sobre amenidades, entretenimento, esportes ou qualquer
outra coisa supérflua em época de crise. Mais ainda, questionou-se que seria um
absurdo tanta gente parar de trabalhar e viajar no Carnaval… “Cadê a crise?” –
perguntou um deles. Aqui vou escrever a minha reflexão pessoal.
O Carnaval é uma festa popular que emenda o feriado.
Algumas pessoas o antecipam em uma semana e há estados brasileiros que
praticamente param para receberem seus turistas nesta época. Para alguns
comerciantes, esses feriados prolongados são lacunas na produção, mas para
outros que vivem do turismo, a festa traz uma produtividade enorme. Criticar a
diversão numa festa folclórica brasileira pelo fato de o país estar em crise é
quase que forçar um luto, um “toquem de recolher” ou de “proibido se divertir
porque o país passa por isso ou aquilo”, quase comparado a tradição de
antigamente, quando a sociedade conservadora exigia que uma viúva se vestisse
somente de preto.
Considerada “fútil” por alguns, a indústria da moda
movimenta uma parcela enorme do PIB brasileiro. O futebol vende camisas,
artigos esportivos e gera empregos diretos e indiretos. Motociclistas,
roqueiros, frequentadores de rodeio também tem o seu papel na economia e até
artigos religiosos são explorados comercialmente pelos seus fabricantes. Então,
qual o mal de, uma vez por ano (se você tiver dinheiro pra isso), desligar-se
do mundo e curtir o carnaval?
Preocupe-se sim com os assuntos importantes, como
economia e política, mas não deixe de viver e se divertir. Do contrário, se a
crise durar mais do que o esperado, no final você perceberá quanto tempo perdeu
também sem produzir e sem ser feliz. Pior que isso é que, quando ela realmente
passar, você estará desatualizado do mundo (porque tudo pelo que se dedicou
durante anos foi reclamar do governo) e muito provavelmente viverá por algum
tempo um vazio existencial, que nem mesmo o Carnaval será capaz de preencher.
Postado originalmente em 09/02/2018, por Aguinaldo Oliveira em Portal Novo Dia.